segunda-feira, 24 de março de 2008

Curriculum

Hoje em dia tudo é questão de referências. Você está procurando um novo emprego. Pede referência ao seu ex-chefe. Você precisa de uma empregada doméstica. Vai ligar para a última patroa para saber quais são suas referências. Ninguém mais firma um compromisso sem saber dos antecedentes da pessoa. Certo? Redondamente errado. Fazemos isso o tempo todo quando começamos a namorar.

Como assim? Bom, aposto que você não ligou para a ex namorada do cara perguntando “Por que terminou? Ele tem algum hábito estranho? Como ele te tratava quando estava entre os amigos? Ele te comparava com a mãe dele?”. Todas as perguntas pertinentes, mas que ninguém investiga antes de aceitar a pessoa.

Vocês começaram a namorar. Era tudo lindo. Ele te deu um presente de um mês de namoro. Te mandava mensagens pelo celular dizendo que a saudade era insuportável. Um ano depois, tudo mudou. Você começa a ver que ele tem a mania de discutir com o garçom por causa dos 10%. Chega em casa e espalha o sapato na sala, a blusa no corredor e a calça no chão do banheiro. Fora as piadinhas sobre seus amigos. Afinal, os amigos dele são muito mais legais. Você se sente enganada. Cadê o homem sincero, correto e romântico que conheceu?

Ela jurava que adorava ver jogo de futebol. Ia com você todo o domingo no maracanã. Chegou até a vestir a blusa do seu time algumas vezes. Agora, é uma discussão séria toda vez que você decide jogar uma pelada com o pessoal do trabalho. Antes ela aceitava na boa o fato de você querer encher a cara no bar sozinho com os amigos e falar de mulher, esporte e mulher. Agora, “Lá vai você se encontrar com esses garotos. Todos um bando de solteirões, desocupados e crianções”. Cadê aquela princesa doce e delicada?

Pois é. Quem mandou acreditar em tudo que o outro dizia sem investigar antes a história? Talvez, se tivesse entrevistado a ex namorada dele, você estaria mais preparada. E se você tivesse procurado o ex dela, pensaria duas vezes.

Opa, um segundo. O que garante que o ex vai ser sincero? E se ela ainda quiser ficar com ele? E mesmo que não quisesse, mesmo que seja sincero, a opinião não vai ser boa. Se fosse boa, não teria acabado. E agora, o que eu faço?
Acredite! Acredite que apesar de todas as diferenças, ele pode te fazer feliz. E apesar de não gostar de futebol, ela pode ser uma pessoa melhor ao seu lado. Porque apenas nesse caso especificamente, a falta de referências anteriores é o que proporciona a confiança e a construção de um relacionamento saudável, mesmo que cheio de surpresas.

"Eu perdoaria seu orgulho, se ele não ferisse o meu”

Essa frase faz parte de um dos romances que eu mais gosto. “Orgulho e Preconceito”. Quem me conhece sabe que eu não assisto muito a romances. Não que eu não seja uma pessoa romântica, longe disso. Acho que às vezes sou ate demais. Simplesmente porque o fato da mocinha sempre ser vitimizada, me irrita muito. Mas isso é assunto para um próximo texto.

Enfim, essa frase me chamou atenção, pois passei por isso há poucos dias. Para situar melhor as pessoas, o filme se passa em 1897, e conta a historia de Lizzie e suas quatro irmãs. Todas a procura de um marido. Menos, é claro, a mocinha Lizzie. Em uma festa, ela conhece o rico e fechado Mr. Darcy. O gentil cavalheiro não é tão gentil assim no primeiro contato. Mas ela, nem de perto é a mocinha que precisa ser salva.

A historia segue, e você fica angustiado com os diálogos pela metade travados pelos dois, as frases não ditas, as palavras que escondem a verdadeira intenção, os eufemismos, os desencontros. E eu comecei a perceber como isso é comum, ainda hoje. Como ainda seguramos os sentimentos, nos esquivamos da verdade, julgamos pela opinião alheia, como não escutamos uns aos outros. Não falamos mais, não ouvimos mais.

Sempre na defensiva, para não se machucar. Trava-se uma batalha contra o outro e contra si mesmo. Deixamos que o nosso orgulho tome conta, pois não queremos perder mais uma vez. Não percebemos que podemos ferir o outro, se não somos humildes o suficiente para apenas escutar. Queremos conquistar por ego, “Eu consigo”. Mas não queremos ser conquistados. Orgulho.

Porque para ser conquistado, seria preciso escutar o que o outro tem a dizer. E ai, a brincadeira começa a ficar perigosa. É mais fácil imaginar as características da pessoa do que escutá-la. Julgar pelo passado, por opiniões de outros, por falsas impressões. Preconceito.

“Eu perdoaria seu orgulho, se ele não ferisse o meu”. “Eu perdoaria a sua vaidade, se ele não ferisse a minha”. Frases ditas pelos protagonistas. Orgulho, preconceito, vaidade.

O pior é que muita gente vai ler e achar que é um recado direto. Talvez seja. Mas provavelmente, se a carapuça serviu você não tem nada do que se orgulhar.

Amor é prosa, sexo é poesia

Faz tempo que eu não falo sobre relacionamentos por aqui. O que é um erro, já que sou conhecida por minhas teorias milaborantes. Bom, acontece que fazia tempo que eu não prestava atenção nisso. Sabe fechada para balanço? Então... Mas enfim, chega de enrolação e vamos lá.

Esses dias, eu estava conversando com uma grande amiga minha, que esta passando por alguns problemas que a fizeram mudar de atitude, gostos, sorriso. Ela, que sempre preferiu um homem bonito, protótipo do solteiro no Rio de Janeiro, me surpreendeu quando disse que agora, por causa dessa fase, gostaria de um homem com mais conteúdo. Isso me lembrou outra amiga minha, que sempre quis um príncipe encantado lindo, o homem mais bonito da cidade para desfilar por aí. Porém cansou dos “bonitinhos, mas ordinários”, e se ajeitou com um cara completamente normal, e muito, muito apaixonado. Ele não era sua primeira opção, mas por que não tentar?

Voltando a minha amiga surpreendente, ela também afirmou estar assustada. Foi a um bar certo dia, e só viu mulheres solteiras à procura de... Bem, eu não sei. Ela me perguntou por que existem tantas pessoas sozinhas no mundo, reclamando da solidão, com uma dificuldade absurda de encontrar alguém decente?

Respondi que são vários fatores. Primeiro, as escolhas imutáveis das pessoas. Elas acabam sempre apontando o dedinho para os mesmos tipos, que não necessariamente são físicos, pode ser algo mais comportamental mesmo. O feio e o bonito são iguais, desde que ajam da mesma maneira.

Às vezes, é azar mesmo. Azar de não estar no mesmo timing que a outra pessoa, azar de não ter tempo, azar de ter o dedo podre (outra teoria que um dia eu escrevo aqui). Lady Murphy esta aí para angariar desgraçados em prol de sua causa. Todas se tornarem tias velhas e solteironas como ela.

Pode ser trauma também. Tantas vezes abrimos nosso coração e baixamos a guarda, para chegar algum cretino e acabar com a nossa sanidade mental, que uma hora você grita para si mesmo: “Chega, não quero mais brincar disso!”. E ai, construímos um muro de gelo intransponível. Esperando por um homem com atitude o suficiente para quebrá-lo. Só que o muro assusta demais, e os homens não são mais tão corajosos como antigamente. Agora, eles também sofrem, muito mais que antes.

Mas para mim, o ponto x da questão, tem a ver com a sociedade mesmo. Não sei ao certo o que aconteceu, mas algum banana resolveu vender a idéia de que o amor é identificado no primeiro olhar. E o mundo todo comprou essa maldita idéia. Por que sua mãe casou aos 20 anos e você, com 27 não esta nem perto disso? Porque antigamente, ninguém queria achar o amor pra vida toda. As pessoas queriam mesmo era achar um casamento. Essa era a cultura da época.
O advento do divórcio, só veio para reforçar essa idéia. Nossa geração é filha do divórcio. Da separação traumática. Por sermos testemunhas do boom do divorcio, nós agora não queremos mais um casamento apenas. Porque a gente sabe que uma hora tudo pode acabar. E se for para casar, tem que ser com a pessoa que assim que você viu, sua perna tremeu, você perdeu o chão e ouviu sininhos.

Queridos, aceitem. Se você casar com essa pessoa apenas por cega paixão, seu casamento vai durar um ano. Dois no máximo. Sabe por quê? Por que você não procurou um casamento, você procurou um amor louco. E casamento é feito de muito mais que isso. Relacionamentos estáveis são feitos de confiança, cumplicidade e muita paciência para agüentar a rotina. Você só tem a certeza de ama alguém quando suas pernas param de tremer, você acha o chão, e a pessoa continua indispensável.

Às vezes eu penso que falta às pessoas darem um voto de confiança umas nas outras. Dispensa sem dó ou piedade simplesmente porque ela não te balançou de primeira. E daí se você não sentiu nada na primeira vez que vocês ficaram? E daí se o beijo não foi sufocante? Por que não ter um pouco mais de paciência e pagar para ver onde vai dar? Como eu já disse, sentimentos verdadeiros acontecem durante o dia a dia, levam tempo. Sabe Arnaldo Jabour, ”Sexo vem dos outros e vai embora, amor vem de nós, e demora”? É isso. Demora... Nada que é instantâneo pode durar muito tempo. E olha que nisso eu tenho experiência.

Então crianças, esse é o conselho do dia. Dêem uma chance para o amor acontecer. Não esperem o chão tremer, porque às vezes, não é assim que a historia acontece. E mesmo não tremendo de imediato, não quer dizer que não vai tremer daqui a três meses. E que você não vai viver uma linda historia de amor.



P.s: Sabe a minha amiga, que deu uma chance para o cara normal, mas muito apaixonado? Pois é, hoje ela diz que não quer viver sem ele, e que agora sabe o que é amor de verdade. Imagina se ela não tivesse paciência para esperar o amor chegar?